Sempre fico maravilhada com a variedade de gente que existe no mundo. Cada um vivendo momentos diferentes da vida, diferenças que trazem uma riqueza e uma força própria. Basta cinco minutos sentada em um banco de praça ou em um mercadão e você pode notar os detalhes no turbilhão que somos.
O cara recomeçando do zero em um lugar longe de tudo que ele conhece, alguém dando duro pra conseguir o diploma, duas senhoras que são amigas a mais tempo do que eu estou viva nesse mundo jogando papo fora, a moça que só quer ir pra casa descansar. A vida é o que acontece entre uma coisa e outra.
Como uma pessoa que cresceu com um grande senso de comunidade, sei quanto o nosso meio nos afeta - nossos hábitos, nossa visão de mundo, nossos sentimentos, nossas ideias - tudo isso é um reflexo. Não é atoa que coisas que acontecem na nossa infância podem nos afetar pelo resto da vida, crianças são muito sensíveis ao ambiente.
Isso não quer dizer que o ambiente pode nos definir por completo, selar nosso “destino” por assim dizer. Toda família tem alguém que quebrou o molde e foi viver de uma forma diferente de todo o resto. Você pode pensar e agir diferente do padrão do seu ambiente, se reeducar, mas isso é uma escolha. É algo que você tem que escolher ativamente nas suas palavras e nas suas ações.
É bom sim ter um ambiente diverso de opiniões, mas ficar em um ambiente que não comporta o tipo de pessoa que você é ou quem quer ser é como se fechar em uma caixa como punição por ser diferente. Isso também é uma forma de acabar com a diversidade, uniformizando tudo numa massa homogênea.
Por isso, pessoalmente acredito que precisa existir uma certa base comum em qualquer tipo de relacionamento. Tentar manter uma relação puramente por laços sanguíneos, quando todo o resto está desalinhado e não existe esforço ou preocupação alguma da outra pessoa, é como construir um prédio com areia de praia. Uma hora vai dar problema.
Se ambas as partes realmente estiverem dispostas a contornar isso, valorizando a relação que tem, podem sair mais fortes do outro lado. Infelizmente, acho que na maioria das vezes o prédio desaba mesmo, principalmente se alguém exigir um sacrifício em nome de manter uma paz ilusória, mas sem querer realmente sacrificar nada ela mesma.
Não me leve a mal, eu sou a pessoa mais família que eu conheço. Amo tanto minha família que sacrifico posições pessoais que sei que não conseguiriam entender por falta de repertório e me fico em silêncio em assuntos que sei que poderia falar tranquilamente sobre. Em parte, é saber escolher suas batalhas.
Vou adicionar um mea culpa aqui por achar que eu me resigno demais de algumas discussões e que talvez eu devesse dar mais chance para ser surpreendida (mas vamos confessar que é bem difícil em uma era cheia de opiniões baseadas em mentiras virtuais e na relativização da verdade).
Essa pode ser uma situação bem desgastante. É por isso que cada vez mais acredito que temos as nossas pessoas, um grupo de estranhos que estão alinhados em tantos níveis que pode parecer até que já estava escrito que vocês se trombariam cedo ou tarde, não importa a distância.
Para isso é preciso o esforço de sair da sua bolha, explorar novos lugares e estar aberto a se relacionar e a ser vulnerável com outras pessoas - o que, eu sei, na nossa era parece quase tortura, mas não tem outro jeito.
Ultimamente tenho considerado entrar um clube por assinatura só de mulheres na minha cidade com tem rolês semanais bem bacanas. E antes que você me julgue, vulgo eu mais nova, a vida adulta não é tão moleza gata!
Se você não está interessada em entrar para nenhum clube, pelo menos mude o caminho do trabalho pra casa de vez em quando. Pode ser tão simples quanto isso para que a mágica do universo te faça esbarrar em alguém que você nunca teria conhecido de outro jeito.
Não tem segredo. Vá naquele restaurante que sempre quis ir, troque ideia com alguém que curte o mesmo podcast que você, vá naquele ponto turístico da sua cidade que você sempre adiou de conhecer ou dê uma passada na livraria e peça por uma recomendação de livro. Alias, acho que a maneira mais fácil de fazer amizades pra mim sempre foi através dos livros. Se me deixar, desato a falar até precisar beber água. Aquelas feiras de livros também são super bacanas, dá pra conhecer pessoalmente quem participou do projeto editorial e trocar ideia.
É desconfortável, sem dúvidas, mas acho que uma das coisas que eu mais tenho medo na vida é ficar presa em um lugar, seja físico ou em relacionamentos, por conta da conveniência de ser o que eu conheço. Imagine só, perder a chance de conhecer o tanto de gente que eu ainda vou conhecer e me tornar outra pessoa, ser mudada por elas!
Deus me livre. Vá com desconforto mesmo.
Você nunca sabe a onde ou a quem o seu caminho vai te levar. Conheço pessoas que foram até pra outros países por muito menos. Por fim, vamos valorizar a interação humana, a gente vale a pena.
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Galera, acho que vocês vão ter que relevar meus horários loucos de postagem ou vamos mudar o dia porque ando curtindo a vida adoidada no fim de semana, a.k.a. fui conhecer a Catedral da Sé e o Teatro Municipal, então fico muito cansada pra escrever domingo e postar segunda de manhã.
Veremos o que vamos fazer. ;)
Eu nunca concordei com aquela frase: os opostos se atraem.
Hoje concordo menos ainda. As pessoas que combinam com a gente normalmente têm interesses em comum. Acho que por isso muita gente não se dá bem com a própria família, há diferenças impossíveis de se ignorar.
Pessoas que gostam de nós, se interessam pelo quê gostamos, cuidam do que é precioso para nós… Isso é família!
Adorei seu texto ♥️