A última coisa que uma mulher deve ser é egoísta. Uma mulher egoísta merece o sofrimento e qualquer coisa que lhe acontecer, será muito bem feito. Essa é a lição que permeia a vida de toda mulher ao redor do mundo e da história humana.
Somos programadas a existir e navegar um espaço condicional, onde podemos ser aceitas e até ter algum sucesso profissional e pessoal desde que sigamos as regras, regras essas que levam a um só lugar - o silêncio.
Existe uma forma certa de falar, de se vestir. Sua função é cuidar, estar sempre disponível e nunca interromper. Auto-sacrifício é o seu nome do meio.
Mesmo agora, em sociedades que se consideram muito progressistas, o lugar que uma mulher pode ocupar e as escolhas que deve tomar são bem delimitados. Dê ao prisioneiro a ilusão de liberdade e ele nunca vai tentar escapar.
Basta que uma mulher escolha algo fora desse eixo que é esperado dela, então em breve a estarão chamando de pretenciosa. De repente, todos acham que ela quer demais e querer demais vira uma espécie de acusação velada. Seja menos e menor, eles pedem. Afinal, quem ela pensa que é?
Everybody supports women until a woman's doing better than you
She's probably self-centered, we hate her and she's nothing
If everybody leaves her, then she had it coming
Everybody Supports Women - Sofia Isella
Experimente dizer que não pensa em se casar ou em ter filhos. A incompreensão de “como você pode não querer” é sempre acompanhada da certeza de que você está enganada, por mais que não saibam explicar o motivo, e de que vai mudar de ideia eventualmente.
Não é preciso não querer, o não pensar já é ofensa o bastante. Só por isso já é necessário que se ofereça uma justificativa. Não penso nisso agora. Não, eu não odeio crianças. O fato é que se sou realmente livre para escolher, não deveria precisar justificar nada.
Esse discurso condescendente e cheio de síndrome do salvador atinge as escolhas das mulheres como um todo. Um exemplo menos comum de ser citado são as mulheres que escolhem usar o hijab por motivos culturais ou religiosos. Daria pra fazer fila com todos os “aliados” de movimentos que tentam dissuadi-las a todo custo pensando que as estão salvando de alguma lavagem cerebral. Muito heroico.
Acontece que as mulheres nunca precisaram ser salvas. Nós podemos muito bem escolher o que é melhor para nós, só que mulheres com poder de escolha são perigosas. Podemos muito mais do que a versão doce e suave que nos venderam.
A melhor coisa que uma mulher pode fazer é sonhar grande e se inspirar em outras mulheres. Quando olho para Tamara Klink, atravessando o Atlântico sozinha aos 24 anos; para Giovanna Vial, correspondente de guerra no outro lado do mundo; minha vó Maria que escolheu viver a vida que não pode viver quando era mais nova, e tantas outras mulheres incríveis, sei que somos imparáveis.
Então, sim, podem me chamar do nome que preferirem. Pretenciosa. Metida. Egoísta. Intrometida. Mandona. Serei mesmo indomável, me recusarei a me dobrar na cruzada que os homens travam contra tudo que é sagrado e longe do seu alcance nesse mundo.
Tenho certeza que desagradarei a muitos fazendo o que bem entender da minha vida. Quanto à aqueles que me interpretarem como qualquer coisa além do que sou, não vou perder tempo corrigindo ou me explicando para ninguém. Me mal interprete se quiser, o problema é todo seu.
Isso é tudo um processo, é claro. Pequenos passos de um caminho que eu ainda percorro com frequência. Um exercício constante de desfazer nós e tecer com essa linha algo que parece novo mas sempre esteve dentro de nós.
Com o passar do tempo, parei de me encolher, de apaziguar e de me fazer mais fácil de ser digerida. Minha voz ainda me surpreende sendo firme quando peço uma informação ou falo com um desconhecido, educada mas expansiva. Eu tomo espaço. Reservo minha doçura para os meus amigos próximos e minha família.
Se eu pudesse dar um conselho para minha versão mais nova, diria: Não passe sua vida tentando ser só agradável, você merece ser muito mais. Viver em um estado de constante auto sacrifício pelos outros também é uma forma desrespeito consigo mesma. Se escolha em primeiro lugar e faça suas escolhas levando em consideração o que você quer, o que é bom pra você.
Seja sim muito pretenciosa. Sonhe alto e pegue dessa vida tudo o que conseguir levar. O mundo, minha querida, pertence às mulheres indomáveis.
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Até semana que vem :)
A primeira frase do seu texto me pegou. Quando me perguntam por qual motivo não quero casar ou ter filhos, eu sempre respondo a mesma coisa: “Sou egoísta! Não desejo ter que dividir meu tempo com ninguém, quero meu tempo só para mim”. Isso parece assustar as pessoas, mas nunca mais me perguntam algo do tipo.
A verdade é essa mesma. Tenho pavor de ter que me anular. Eu já faço um pouco disso por causa da minha família (não reclamo, pois precisam de mim). Por qual motivo eu ESCOLHERIA mais pessoas para tomarem meu tempo? Eu quero ser tão livre que nem eu consiga me aguentar. Não dá para conseguir isso carregando gente junto com você.