Para além das fronteiras: uma coletânea de fotos
As ligações que nos encontram nos olhos dos outros
O mundo é um lugar dividido em fronteiras.
Sempre achei tola essa divisão, afinal ela é exatamente aquilo que limita o potencial muito maior que poderíamos ter e nos prende em pequenos quadrados de terra aos quais devemos pagar para ter o direito de existir. É muito egocentrismo achar que a terra nos pertence e não que nós pertencemos à ela - nosso ponto de partida e destino final. A benção dela que permite cada passo nosso sobre si, nos sustenta nos nossos desvairados caminhares.
Era muita liberdade, alguns acharam, não podia ser de graça. Muros foram erguidos, o valor de uma vida foi precificado seguindo as regras do mercado. Todos os humanos são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros. Ainda assim, existe algo que nos liga e extrapola qualquer barreira.
Algo que escapa da tradução nas variadas línguas, um fio que atravessa milhares de quilômetros até povos de culturas diferentes.
Você pode estar muito longe de casa, virar uma esquina e encontrar a rua que cresceu jogando bola descalço no asfalto, brincando de polícia e ladrão. Me lembro de escalar o portão de casa, depois que minha mãe decretava o fim da baderna para mim. Enrolava para jantar e ir tomar banho ou comia tudo o mais rápido possível para poder continuar assistindo às brincadeiras e torcendo por cima do portão de madeira. A sola do pé preta como carvão, cheiro de formiga na pele, e ali estavam os gritos dos meninos da minha rua, separados por 20 anos e um oceano de distância.
Foto de Steve McCurry, Havana, Cuba.
Foto de Douglas Miguel, Joinville, Santa Catarina.
Foto Pinterest, Marrocos.
Talvez eu esteja sendo tendenciosa ao apelar para o futebol e brincadeiras de criança, algo que é quase universal. A fome bate e há um cheiro familiar no ar, cheiro de confraternização e churrasco. De repente, se pergunta como foi parar de volta no Rio de Janeiro se não se lembra de entrar no avião de volta. Tudo tem gosto de casa - os abraços, os sorrisos e a comida.
Foto de Kim Praise, Angola.
Foto de Alma Preta, Baianas do acarajé, Rio de Janeiro.
Precisa comprar uma água, continua andando até encontrar um mercadinho. O reconhece imediatamente. De alguma forma, transportaram aquele da rua da casa da sua vó Maria até ali. Tem algo engraçado nele, diferente. Você demora a perceber que as letras pintadas na parede não estão na sua língua.
Foto de Catamaran Impi, Tokara Wine State, África do Sul.
Foto de Harrison Lopes, Tela Firme. Corres do comércio local.
Acha graça e resolve deixar pra lá. Deve ser só impressão minha, afinal nem estou tão longe assim. À caminho da praia, um grupo de crianças montam pipas. Quando uma caí no telhado, um menino sobe para pegá-la. Parece que vai ter um campeonato de pipas na praia. Meus primos enlouqueceriam com a ideia, posso até vê-los comprando sacolas, palitos e cola para montar a sua própria. E minha tia dando bronca ao fundo, dizendo para tomar cuidado e não se meter em confusão. Ah, o que eu não pagaria para ser criança de novo…
Foto de Amber Fares, Gaza, Palestina. Durante as filmagens de Flying Paper.
Foto do The Telegraph, Al-Waha. Recorde mundial, Guiness World record.
Foto de Agência Brasília.
Areia nos pés, a brisa do mar. Não vejo a hora de comer um milho, tomar um sorvete. Só preciso achar uma barraquinha.
Foto do Pinterest.
Foto de Joseph A Ferris III, Rizal Park Manila, Filipinas.
Foto de Walter Firmino.
Foto de Bruno Barbey, Portugal.
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Eu poderia citar centenas de outras experiências em que encontrei nos olhos dos outros, meu próprio reflexo. De momentos em que todo tipo de barreira inventada pelo homem parece virar fumaça no ar. Mas vou te dar o prazer de vê-las com seus próprios olhos e se ver na coletânea de imagens a seguir.
Foto Kami-kawaguchiya, Japão. A mais antiga loja de Dagashiya de Tóquio.
Feira na Índia, Pinterest.
Foto Pinterest.
Foto de Steve McCurry, México.
Foto de Pedro Damasceno, Saint Levant.
Foto Pinterest, Etiópia.
Em um mundo tão dividido em que o Outro é visto com desconfiança e hostilidade, é mais necessário do que nunca lembrar dos vínculos que nos ligam. Faça esse exercício e pode ficar até difícil saber onde termina um e começa o outro. Somos uma continuação, semelhantes nas nossas dores e nos nossos amores, principalmente no Sul Global.